A vida de um discípulo de Jesus é marcada pela resistência espiritual que ele deve exercitar ao longo da sua peregrinação. Ser discípulo é estar sob a disciplina de Cristo e, apesar de sermos salvos pela graça, sem mérito de obras, uma vez salvos, somos habilitados pelo Espírito de Deus a amadurecer espiritualmente para não voltar a viver no pecado como quando estávamos perdidos na ignorância.
O apóstolo Paulo, em sua carta aos Romanos, dedica-se a fazer uma primorosa exposição do Evangelho e por meio disso requisitar com muita ênfase que a igreja em Roma resistisse aos conflitos internos que ocorriam ali naquele momento e também aos perigos de uma cultura romana extremamente hostil ao discipulado com Cristo. Resumidamente, Paulo expõem as doutrinas do Evangelho do capítulo 1 ao 11 e já no começo do 12 ele requisita a aplicação do conhecimento à vida cristã prática, para que de posse do conhecimento das Boas Novas de Deus para nós, seus filhos, sigamos desenvolvendo nossa salvação com santidade, aqui mesmo em um mundo caído que só piora ano após ano. Assim, de forma bastante devocional e breve, desejo poder servir você com algumas considerações a respeito disso, especialmente do que o apóstolo registrou em Romanos 12.1-2:
1 Rogo-vos, pois, irmãos, pelas misericórdias de Deus, que apresenteis o vosso corpo por sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional. 2 E não vos conformeis com este século, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus.
Algumas pessoas já me perguntaram: “Como posso resistir?” e a resposta mais simples que entendo que a Bíblia nos dá é “Seja diferente!”, mas não é um “ser diferente” como a maioria imagina. É ser diferente daquela humanidade que o apóstolo Paulo descreve em Romanos 1.18-32. Alguém que está sob a disciplina de Jesus, portanto, alguém que é o Seu discípulo e se sujeita ao Seu senhorio, deve ter a capacidade de identificar o contraste entre a sua vida e a vida daqueles a quem Paulo descreve em Rm 1.18-32, uma humanidade com a mente e o coração completamente mundanos, arruinados pelo engano do pecado e sujeitos a todos os tipos de paixões carnais.
Se é possível resumir Rm 1.18-32, eu diria que o discípulo de Jesus deve resistir basicamente à idolatria e à depravação as quais na natureza humana é sujeita naturalmente. O texto revela que a ira de Deus se revela contra todas essas impiedades e perversões dos seres humanos. Evidentemente, um discípulo de Cristo, salvo pela graça, resiste com tudo o que tem às situações que possam o levar a fazer parte dessa humanidade idólatra e depravada.
Penso que o Espírito de Deus, por meio da pena de Paulo, insiste que nós sejamos diferentes do que a maioria da humanidade é, conforme descrito em Rm 1.21-22:
21 porquanto, tendo conhecimento de Deus, não o glorificaram como Deus, nem lhe deram graças; antes, se tornaram nulos em seus próprios raciocínios, obscurecendo-se lhes o coração insensato. 22 Inculcando-se por sábios, tornaram-se loucos.
Todo ser humano que vive sem Cristo, sem a iluminação do Evangelho, vive em meio a pensamentos perversos e pecaminosos. Sabe qual é a parte triste disso? É que muitos que frequentam igrejas e ouvem a Palavra de Deus semanalmente encontram-se na descrição que esse versículo faz. Esses são os hipócritas e para eles o juízo será maior.
Resistir espiritualmente com o Evangelho também garante ao discípulo ser diferente em sua adoração. A humanidade cujos pensamentos são perversos e pecaminosos nos termos que lemos nos versículos acima, também expressa uma adoração corrompida, conforme mostra Rm 1.25:
25 pois eles mudaram a verdade de Deus em mentira, adorando e servindo a criatura em lugar do Criador, o qual é bendito eternamente. Amém!
Não é exatamente isso que vemos hoje? Idolatria atualmente está para além do quesito religioso relacionado às imagens de santos ou outras entidades. Podemos ver idolatria hoje nos programas de TV e especialmente nas redes sociais com o culto moderno aos influenciadores e afins. Sabe qual é a parte triste disso? Há um número sem precedentes de jovens que se dizem cristãos, mas são antes de tudo idólatras de pessoas e ideias totalmente estranhas as Sagradas Escrituras.
Também devemos resistir a forma como lidamos com nosso corpo, templo do Espírito de Deus, propriedade dEle portanto. Os cristãos honram ao Senhor honrando ao seu corpo desde o que veste até a tudo que faz fisicamente com ele, isso é um fato bíblico. Por outro lado, a humanidade de pensamentos perversos e adoração corrompida, corrompe também o uso do corpo de diversas maneiras, mas especificamente o texto de Rm 1.26-27 destaca a maneira sexual. Enquanto houver essa passagem na Bíblia o homossexualismo será pecado, a identidade de gênero será pecado e o que mais inventarem que corrompa a boa criação de Deus. Nós cristãos temos que ser diferentes e resistir ao mal que os versículos a seguir colocam:
26 Por causa disso, os entregou Deus a paixões infames; porque até as mulheres mudaram o modo natural de suas relações íntimas por outro, contrário à natureza; 27 semelhantemente, os homens também, deixando o contato natural da mulher, se inflamaram mutuamente em sua sensualidade, cometendo torpeza, homens com homens, e recebendo, em si mesmos, a merecida punição do seu erro.
Finalmente, os cristãos são chamados a resistir aos relacionamentos perversos, devemos ser e fazer nossos relacionamentos serem diferentes. Para isso, devemos primeiro nos alinhar com o caráter bíblico de um cristão e assim ser diferente do que Rm 1.29-32 mostra a respeito da humanidade ímpia e depravada:
29 cheios de toda injustiça, malícia, avareza e maldade; possuídos de inveja, homicídio, contenda, dolo e malignidade; sendo difamadores, 30 caluniadores, aborrecidos de Deus, insolentes, soberbos, presunçosos, inventores de males, desobedientes aos pais, 31 insensatos, pérfidos, sem afeição natural e sem misericórdia. 32 Ora, conhecendo eles a sentença de Deus, de que são passíveis de morte os que tais coisas praticam, não somente as fazem, mas também aprovam os que assim procedem.
Uma vez seguidores de Jesus, capacitados pelo Espírito para a santidade, o nosso ato de resistência neste mundo deve ser uma meta para que em momento algum tenhamos nossos pensamentos, adoração, forma de lidar com o corpo e relacionamentos corrompidos pela idolatria e depravação na qual este mundo e toda a sua estrutura estão mergulhados.
Vale lembrar do conselho que o Espírito Santo registrou por meio de Paulo ainda na carta aos Romanos no capítulo 6, versículos 12 a 14:
12 Não reine, portanto, o pecado em vosso corpo mortal, de maneira que obedeçais às suas paixões; 13 nem ofereçais cada um os membros do seu corpo ao pecado, como instrumentos de iniquidade; mas oferecei-vos a Deus, como ressurretos dentre os mortos, e os vossos membros, a Deus, como instrumentos de justiça. 14 Porque o pecado não terá domínio sobre vós; pois não estais debaixo da lei, e sim da graça.
Penso que, ao fazermos isso, como discípulos, estaremos honrando ao nosso Senhor e experimentando a verdadeira fé cristã, a verdadeira filiação de Deus. E também, como Paulo colocou em Rm 12.1-2, estaremos nos oferecendo como sacrifício vivo a Deus, estaremos prestando um culto racional, não nos conformando com o presente século e tendo a nossa mente renovada e transformada por Ele.
Resista, discípulo!